Como resultado da colaboração entre a Sony AI e a Polyphony Digital, nasceu a Gran Turismo Sophy, uma inteligência artificial que chegou recentemente ao Gran Turismo 7 e tem dado que falar pelas suas capacidades sobre-humanas atrás do volante.
Neste artigo vamos analisar o quão técnica, dinâmica e aterrorizante consegue ser a Sophy.
A Sophy chegou ao Gran Turismo 7 através do evento Race Together, que nos põe à prova em 4 corridas distintas, cada uma delas com 4 níveis de dificuldade, nas quais corremos contra várias versões da Sophy mas sempre com carros com performance index inferior ao nosso. Esse handicap vai diminuindo à medida que vamos progredindo até chegar à corrida final, onde disputamos um “1 vs 1” contra a melhor versão da Sophy e em carros rigorosamente iguais, e é aqui que começa o verdadeiro pesadelo.
Confesso que quando vejo o termo “Inteligência Artificial” aplicado a um jogo de corridas torço sempre o nariz porque até hoje acabou sempre por ser mais do mesmo, racing lines que pouco variam, comportamento neutro e nada que desafie verdadeiramente os jogadores. Porém, a Sophy revelou-se algo completamente diferente.
O primeiro embate contra a Sophy tem lugar no circuito de Tsukuba ao volante de um Honda Integra Type-R, uma combinação que conheço bastante bem e daí estar confiante que iria ser relativamente fácil distanciar-me da Sophy. Na realidade o resultado foi um bocado diferente.
No modo de dificuldade mais alta, em que fazemos um “1 vs 1” com carros iguais, é um verdadeiro pesadelo conseguir ganhar à nossa amiga. A Sophy consegue aproveitar a largura da pista ao máximo, fazer travagens exactamente no ponto certo e passar a milímetros do apex como dificilmente algum de nós irá alguma vez conseguir. Além disso, consegue adaptar-se às nossas linhas, compreender os nossos erros e criar estratégias em milésimos de segundo para nos servir uma boa dose de “Humble Pie” logo na primeira volta.
Além de ser rápida e extremamente eficaz, a Sophy também é capaz de nos lançar algumas armadilhas. O exemplo mais escandaloso foi durante o evento em Tsukuba, mais propriamente na última curva antes da meta, em que a Sophy fez uma simulação de ultrapassagem por dentro, obrigando-me assim a proteger e a entrar na curva de forma errada para impedir a ultrapassagem, seguido de um ataque súbito pelo lado contrário (por fora) com uma travagem tardia em apoio causando um oversteer controlado. Desta forma conseguiu colocar-se à minha frente e bloquear qualquer contra-ataque. Simplesmente genial.
Como se não fosse suficiente, além de nos mostrar que somos lentos ainda nos provoca um pouco usando emojis quando somos ultrapassados ou quando nos vai a pressionar no limite, mas sempre mantendo o máximo respeito pelo adversário sem nunca haver contacto apesar das tentativas arriscadas de ultrapassagem sempre a centímetros do meu parachoques traseiro. Este nível de sportsmanship é algo que dificilmente conseguimos encontrar em corridas online, onde a maior parte dos jogadores acaba por usar “dirty moves” para vencer, neste caso a Sophy vence porque realmente é melhor do que nós. Para quem, como eu, dá preferência a single player mas adora um adversário desafiante, o nascimento desta AI é motivo para celebrar.
Não sei qual foi a receita para a criação da nossa amiga, mas arrisco a dizer que foi uma mistura de Ayrton Senna com Bunta Fujiwara, raspas de pneu Yokohama, uma pitada de sal e pimenta, tudo junto para o caldeirão, misturado com auxílio de uma espada de Samurai, e puff, nasceu a Sophy.
No futuro os planos da Sony passam por integrar esta AI de raiz nos Gran Turismo, mas para já está apenas disponível, e por tempo limitado, através do evento Race Together. Se ainda não foram lá espreitar, façam-no o quanto antes e aproveitem a demonstração de skill da Sophy para melhorarem como pilotos. Durante todo o teste usei um playseat com volante e três pedais acompanhado de uma caixa manual, sem recurso a qualquer tipo de ajuda, à excepção de ABS, e graças ao treino com a Sophy consegui bater o meu melhor tempo no circuito com este carro, o que para mim foi extremamente gratificante.
Se duvidam da sua eficácia espreitem as replays dos jogadores mais rápidos do mundo e a forma como a Sophy os pressiona de “faca nos dentes” durante toda a corrida.
Ver os seus pais a jogar Spy Hunter num Spectrum ZX, é uma das suas memórias mais antigas, e foi precisamente esse momento que fez nascer as suas duas grandes paixões. Sendo um gamer e petrolhead com raízes tão fortes, não consegue viver sem uma boa tarde agarrado a uma das consolas ou computador, ou uma noite bem passada ao volante de um carro enquanto conduz sem destino acompanhado de uma boa banda sonora. Cresceu com jogos de carros como Lotus III, 4D Sports Driving, NQ RAC Rally e claro, Gran Turismo 2. O verdadeiro gosto por outro tipo de jogos apareceu mais tarde, no início dos anos 2000, assim que meteu as mãos numa cópia de Final Fantasy 8, que por sinal ainda hoje é o seu preferido. Desde então é completamente apaixonado por jogos com uma boa narrativa, considera que sagas como Final Fantasy, Kingdom Hearts, Metal Gear Solid, Mass Effect e Life is Strange são autênticas obras de arte.