Taxi Life: A City Driving Simulator – Análise

Existem muitos jogos de condução de automóveis. Uns focam-se na simulação mais exigente de corridas em circuitos, como o Assetto Corsa Competizione, outros misturam uma vasta cultura automobilística com uma jogabilidade mais arcade, como o mais recente Forza Horizon 5. Mas ainda existem alguns jogos que são apenas apreciados por um nicho de jogadores, como é o caso do mais recente jogo da Nacon (em pareceria com a Simteract), Taxi Life: A City Driving Simulator. 

Eu gosto bastante deste tipo simuladores para ser honesto, mas estou mais virado a experimentar coisas que estaria genuinamente interessado em fazer na vida real, como sentar-me ao volante de um camião e transportar mercadorias por esse país fora, que é o que o Euro Truck Simulator 2 nos oferece desde 2012 e continua nos dias de hoje a ser um dos jogos de referência neste departamento. Mas um motorista de táxi? E porque não!!

Recordo-me de dois momentos onde “fui” motorista de táxi, sendo um deles nos jogos Crazy Taxi (mas de simulador e realismo pouco tinha) e o outro no GTA V, onde era uma das atividades opcionais que o jogo nos oferecia (o GTA IV também tinha, mas apenas em algumas missões especificas). Não posso dizer que Taxi Life: A City Driving Simulator me influenciou de tal forma a ter vontade de enviar currículos para as empresas de táxi, mas admito que o jogo conseguiu cativar-me por algumas horas em cada dia que o jogava. O jogo não é ótimo (estando muito longe disso), mas também não posso dizer que é completamente terrível, pois tem alguns pormenores bem conseguidos.

O jogo leva-nos até à majestosa cidade de Barcelona (escala 1:1), onde temos 460 km de estradas para percorrer. Posso já referir que a cidade não está toda representada no jogo, apenas uma parte, mas não deixa de ser uma área bastante simpática para se explorar. Nós somos um motorista de táxi que está a dar os primeiros passos neste ramo e cujo objetivo é tornar-se uma referência no negócio dos táxis na cidade espanhola.

Mas antes de sairmos com o táxi e começarmos a ganhar dinheiro, iremos configurar o nosso perfil, dar um nome à nossa empresa e escolher um logótipo e respetivas cores. Aqui tudo é muito básico sinceramente, existem poucos logótipos e poucos modelos de personagem (nem existem motoristas mulheres não sei porquê). Não sei porquê, mas achei que as fotos dos 4 modelos de personagem que existem poderiam ter saído de uma qualquer mug shot da polícia. 

taxi life: A city Driving Simulator
O táxi a chegar para iniciar mais um serviço pelas ruas de Barcelona

Depois de estar criado o perfil, temos um tutorial que aqui funciona como uma autêntica de escola de condução. Podem optar por ignorá-lo claro, mas sugiro que experimentem, pois explica os conceitos básicos das funções do carro e as práticas recomendadas para estacionamento. Se não gostam de estacionar em paralelo, então aqui é uma boa altura para praticarem sem se preocuparem em bater com o vosso carro ou danificar as jantes nos passeios! 

Independentemente de completarem o tutorial ou não, vão ter de concluir um exame de condução antes de poderem seguir o vosso próprio caminho em Taxi Life. Aqui vão aprende o básico: ir buscar o passageiro e deixá-lo no destino pretendido. Durante isso, vão ter que estar atentos a algumas coisas, sendo a primeira a paciência do cliente, que apesar do nome, não é baseada no tempo.

Os clientes vão começar a perder a barra de paciência se conduzirmos mal, seja em excesso de velocidade, passar sinais vermelhos, conduzir em contra-mão, entrar em ruas proibidas ao trânsito e até mesmo se não usarmos os piscas. Quanto mais paciência sobrar no final, maior será a nossa gorjeta, mas se a barra de paciência se esvaziar por completo… perdemos o cliente e não ganhamos dinheiro. 

O arco do triunfo de Barcelona, um dos muitos pontos de interesse presentes

O jogo como disse não é ótimo, estando longe de ser GOTY, mas tem coisas bem conseguidas, pena serem poucas. Pontos positivos, os pontos de interesse de Barcelona, que estão bastante bem conseguidos (já fui até comparar ao Google Maps). Nota-se que o estúdio teve muito cuidado e respeito pelos diversos monumentos, parques, museus, etc.

Outro pormenor que eleva sempre o realismo é termos que nos preocupar em meter gasolina no carro, ou se depois comprarem um carro elétrico, ter que o carregar. A limpeza da viatura é algo que também tem de se ter em atenção, pois os clientes começam a reclamar se andarmos com o táxi imundo. Portanto estejam sempre atentos a estes indicadores e procurem no GPS a bomba de gasolina/posto de carregamento mais próximos. 

Também vão passar algum tempo nas garagens, pois é aqui que os principais elementos do jogo que não envolvem conduzir são tratados. Aqui podem comprar carros novos, modificar os existentes com modificações visuais e de desempenho e gerir a vossa empresa. Se jogaram o Euro Truck Simulator 2 vão achar um pouco semelhante, e apesar de termos tarefas básicas para se fazer aqui (incluindo mais uma vez atestar o carro e limpá-lo) está bem idealizado é um fato. O grafismo consegue cumprir o “mínimo” (e não passa disto), principalmente no detalhe do nosso carro nos pontos de interessa. Eu consigo jogar com o grafismo todo em Ultra, mas (e com todo o respeito) mais parece que estou a jogar um jogo da geração XBOX 360 em 2024. 

Os interiores dos carros ficaram bem conseguidos.

Existem também acontecimentos aleatórios que também ficam bem de se ver em Taxi Life, como ruas cortadas ao transito devido a obras, acidentes rodoviários, viaturas avariadas, semáforos avariados/intermitentes, etc. Também gostei do fato de a altas horas da noite se ver menos trânsito nas ruas, em contraste com as horas de ponta, onde a cidade fica repleta de carros. Na minha opinião são por vezes estes pequenos pormenores que conseguem distinguir-se o jogo X ou Y dos demais.  

Agora… os problemas do jogo (e são bastantes). A Nacon/Simteract vai ter que dar uma “vista de olhos” aos peões…, pois são do mais estúpido que há (e perdoem-me a expressão). Eles parecem que se lembram de atravessar quando vem o nosso táxi, pois estão paradinhos no passeio em “manadas” até verem a nossa viatura a aproximar-se. Depois a meio da travessia, lembram-se por exemplo de voltar para trás, por vezes atravessam com o sinal vermelho para os peões (mas quem nunca fez isto certo?) e existem alguns modelos de peões que ao andarem parecem que estão a fazer o moon walking do Michael Jackson, pois não lhes falta estilo ao “desfilarem” nas passadeiras (pelo menos que as atravessassem mais rapidamente). 

A garagem do jogo, onde tratamos dos mais variados pormenores.

Outro pormenor que tem urgentemente de ser corrigido é a IA que gere o sistema transito… que consegue tirar qualquer pessoa do sério. Já perdi a conta às vezes que estou num semáforo parado e lá vem um carro por trás e nos dá uma valente batedela… com o pormenor interessante depois de ficar a usar a buzina como se eu fosse culpado de “lhe ter” batido estando parado a cumprir as regras de transito. Isto também acontece entre viaturas geridas pela IA convém referir. Eu não digo que os acidentes acontecem, mas dá para se ver perfeitamente que nem tentam travar para evitar que se bata.

E depois aqui entra outro dos pormenores menos conseguidos, os danos nas viaturas, que me fazem lembrar não sei porquê o sistema de danos que via há uns anos atrás no Gran Turismo 5. Deixam muito a desejar e é pouco realista…, ou seja, se baterem por trás o carro fica praticamente imaculado (o meu), mas se for eu a bater a e estiver a estacionar por exemplo e bater num outro carro, fica uma mossa que se vê da lua. 

A economia do jogo também não é realista. Ok, eu percebo que fizeram desta forma para se poder comprar rapidamente novas viaturas e pagar as despesas quando temos mais motoristas e mais viaturas na nossa empresa, mas 550€ de tarifa (mais 55€ de gorjeta) para um percurso de 5 km? Se então tiverem um cliente VIP é mais de que o dobro até. Bem…, assim toda a gente queria ser taxista digo eu. Penso que tarifas mais próximas da realidade seria bem-vindas, ou então mais vale tirar do nome do jogo a palavra Simulator. Também me pergunto porque atestar o carro custa 120€ e reparar o carro com 85% de danos custa 30€? Acho que assim mais vale abrir um posto de gasolina invés de uma chaparia automóvel. 

taxi life: a city driving simulator
Um dos táxis do jogo a passar junto ao Castell dels Tres Dragons.

Já que mencionei a componente de gestão do jogo, ela está aceitável. Podemos contratar e demitir à vontade, e cada motorista tem as suas próprias qualidades e problemas (podem ser vistas numa checklist). Por exemplo, alguns podem ter maior potencial de ganhos, mas também estão doentes em muitos dias e, a cada nível que sobem, essas qualidades aumentam, ou seja, se contratarem um motorista que fica doente inicialmente por um ou dois dias, ele está cada vez mais propicio a ficar doente com maior regularidade, estando depois por exemplo uma semana inteira.  

Podemos ainda designar motoristas para viaturas e áreas específicas da cidade e fazê-los trabalhar em determinados turnos, mas – e isso deixou-me perplexo – eles só trabalham quando nós também estivermos a trabalhar. Portanto, se decidirmos ir para a garagem, fazer algumas reparações ou lavarmos o no nosso táxi e em seguida optarmos por descansar por algumas horas para avançar o tempo do jogo, não iremos ganhará dinheiro algum.  

O jogo tem ainda presente uma skill tree, mas posso dizer que poucas coisas são relevantes para fazer upgrades (tanto que até esqueço que ela existe). Temos upgrades muito básicos como demorar menos tempo a meter gasolina, para assim passarmos mais tempo na rua a ganhar dinheiro (isto é o que diz no jogo não sou eu a dizer) ou um upgrade que nos dá mais XP ao descobrirmos locais de interesse em Barcelona…, como se isso fizesse uma enorme diferença. O upgrade mais significativo até ao momento foi o de ter disponível serviços de transporte mais longos… e quando digo longos é ter desbloqueado viagens de 6/7 km …,Uau! 

Existe a possibilidade de termos conversas com os clientes, mas para além de serem raras, quando ocorrem são do tipo “Tira o inseto que está no vidro, pois é nojento”, “Liga o radio por favor” – se bem que as músicas são do mais insosso que ouvi – ou então conversas que são autênticas pérolas como esta “Então o serviço como corre hoje?” Respondemos que está fraco e o cliente responde “Pois, tens de te esforçar e trabalhar mais horas!” …, Priceless!!  

Também reparei que existem entre os clientes masculinos que entram no táxi dois tipos de cumprimentos, o primeiro deles é um mero e “seco” Hello e o outro é um super/hiper/mega energético “Heyyyy”…, só faltando acrescentar “It´s me Mario! 

Existe uma panóplia de mais problemas/coisas menos conseguidas, como entrar no táxi um cliente e depois quando vemos estão três pessoas lá dentro, o fato de o jogo ser em Barcelona e todos os clientes falarem Inglês (já mudei a língua para Espanhol inclusive a ver se era disso até), o fato de sermos o único táxi em Barcelona pelos vistos, pois não se vê mais nenhum a circular.

Também pergunto se esta grande metrópole espanhola não tem autocarros e camiões a circular pela cidade, pois as paragens de autocarros estão presentes sim, mas não vejo um autocarro sequer, nem camiões a circular nas ruas, apenas automóveis ligeiros, SUV´s e pequenas carrinhas de mercadorias de dois lugares. Também me pergunto se em Barcelona não existem sinais de STOP…, pois no jogo nem os ver. Se estes pormenores fossem acrescentados/melhorados, certamente seria uma mais-valia para o jogo, pois num simulador, quanto mais próximo da realidade, melhor. 

O jogo da Nacon/Simteract encontra-se disponível para PC (versão usada para esta análise) na Epic Games Store e Steam, Xbox Series S/X e Playstation 5. 

Conclusão

Pros

  • Pontos de interesse de Barcelona
  • Área de jogo com bastantes quilómetros para se percorrer
  • Acontecimentos aleatórios que elevam o realismo
  • Gerir o táxi (meter gasolina, lavá-lo, etc)

Cons

  • Inteligência artificial dos peões é muito pobre
  • Inteligência artificial do trânsito, tem de ser revista urgentemente
  • Economia irrealista
  • Interação com os clientes muito escassa e básica
  • Músicas extremamente aborrecidas
  • Pouca variedade de viaturas no trânsito
  • Gestão da empresa precisava de ser mais aprofundada